Texto de aniversário #7



Hey, sonhadores! ❤️

 

Como sabem, hoje é meu aniversário, e a tradição de todo dia 29/11 é o compartilhamento do texto poético do meu best Diego Coelho para mim. Boa leitura!

 

 

A Melodia do Silêncio

                                                                    As vidas vêm e vão, e ecoam na constelação / O acorde que faltava na canção (Fresno)

Algumas composições operam não nos acordes que escutamos, mas naqueles que ficam em suspenso, subentendidos. Nos espaços vazios e silenciosos daquilo que paradoxalmente se faz presente e ausente naquilo que (não) ouvimos, mas que, sabemos que está lá. Como uma sinfonia silente, a tocar, infinitamente entre aquilo que chega aos nossos ouvidos e o que somente nós somos capazes de perceber. Entre o que nos é dito e o que não se encontra caminho ou razão para o dizer.

Nessas notas mudas se encontram linhas sobrescritas de verdades universais, sentimentos, vibrando em frequências audíveis não pelo aparato auditivo, mas por um órgão mais sensível e vital à nossa composição humana: o coração. São trechos e canções feitos para, antes de qualquer coisa, serem sentidas, vividas, encontradas, não por aqueles que as buscam, mas pelas almas perdidas que vagam à deriva em meio ao universo, eterno e igualmente silencioso, a propagar, desde o principiar da primeira alvorada, a mesma melodia silente.

 Dentre as diversas faixas paralelas que ressoam por infinitas dimensões, duas ondas gêmeas, iguais em tom, timbre, intensidade e duração vibram infinitamente pelo cosmos, em direções erráticas, construindo diversas harmonias, cacofonias, dissonâncias, orquestrando realidades convexas por onde passam, tocando almas, corpos e corações daqueles que, por descuido ou acaso, são capazes de escutá-las. Colorindo a paleta monocromática de seres que, sem saber, vivem sua existência no silêncio, não o profundo, não o sonoro, mas de si mesmos, até que, percebem-se, escutam a própria canção e, através dela, sabem que são incompletos, assim como essas mesmas ondas, que seguem indefinidamente em busca uma da outra, para, só então, compor uma sinfonia, uma melodia. Uma canção. A própria existência.

Quando essas duas frequências sonoras atuam no mesmo campo (meio), elas finalmente se encontram, e, na imensidão do vazio, ocorre o fenômeno da interferência. As ondas sonoras se superpõem, resultando em uma única onda cuja amplitude é a soma algébrica das amplitudes das ondas individuais naquele ponto específico, um princípio conhecido como superposição. Camões, sem saber, ditou tal fenômeno ao dizer que: transforma-se o amador na coisa amada, por virtude do muito imaginar, já não há mais o que se desejar, pois se tem, enfim, a parte desejada. Logo, de dois, são feitos um. Uma única vibração. Uma única faixa. Um único acorde.

 Desse modo, passamos a entender que os acordes são originados de frequências suficientemente diferentes, ao que o ouvido humano percebe uma combinação dos dois tons simultaneamente, o que é a base para a formação de harmonias musicais. Porém, e quando tais acordes têm origem em vibrações não audíveis, quando eles vêm de um lugar mais antigo e profundo, como vidas, dores e sensações tão íntimas que não são ouvidas, apenas vivenciadas por pares de existências tão interligadas que atravessam o tecido do espaço e também do tempo? Que se encontram, contra todas as probabilidades, no mesmo onde e quando que só seria possível através de uma infinidade de reencontros através de vidas e notas passadas? Como explicar para os que não ouvem o que somente aqueles que escutam são capazes de escutar? Os sons inaudíveis do sentir vibram, através de nós, apesar de nós. Encontram-se, para que possamos nos encontrar (física e identitariamente).

Nos encontramos.

Assim como Tolkien concebeu seu universo através de uma canção, somos duas sinfonias originadas no silêncio, duas ondas silentes a acomodar o universo através daquilo que não somos capazes de dizer, apenas sentir. As palavras, nossas eternas aliadas, são também nossos algozes, uma vez que fracassam, veementemente, em transmitir aquilo que somos, quando somos, mas que ainda assim, são nossa única ferramenta para reverberar o sentir através dessa dimensão. Atados aos mesmos acordes, vagamos sem rumo pelo vazio infinito, não o dos outros, o próprio, em busca daquilo que nem sequer sabíamos que procurávamos. Um par a reverberar a mesma sinfonia. A procura da mesma canção, a melodia do nosso silêncio.

Neste momento, tão único e singular da minha existência, em que sua frequência vibra em maior intensidade e sobe um tom acima, sou grato aos deuses, se de fato o são, por me permitirem atravessar todas as vidas que tive e tenho para chegar a ti. O universo, o meu universo, não teria sentido sem o acorde que faltava na minha canção. É somente através da sua presença que entendo que há um maestro maior no cosmos a reger uma sinfonia de tudo que há, permitindo que os meus silêncios sejam compreendidos, aceitos, tornando-os, enfim, completos. E deles, faz-se canção. Faz-se emoção. Faz-se inspiração.

Catorze anos atrás nossas ondas colidiram e se harmonizaram através do silêncio inerte do espaço, ecoando desde então uma única nota muda, que somente nós somos capazes de perceber, de sentir. Ela cresce, torna-se mais aguda e grave, mais sonora, a cada novo ciclo, e converte-se magistralmente na melodia da qual sou testemunha. Uma capaz de curar as dores mais profundas com olhar singelo, de acalentar com as palavras mais inesperadas, de abarcar o mundo inteiro em um simples abraço. Uma canção tão única e singular que congrega a muitos a cantá-la em coro uníssono, entoando com orgulho e satisfação a dádiva de poder tê-la ouvido a reverberar por nossa existência, que nos une, nos transforma, nos liberta.

A sua melodia, converteu-se em uma fina película de vida, alçada a uma frequência que reverbera por toda a criação. Não há um ser que não saiba seu nome, mesmo aqueles que não a conhecem, testemunharam sua força a refletir pela vastidão inominável das eras. Logo, neste momento em que sua sinfonia tece um novo acorde a ser tocada na canção silente do seu viver, quero desejar-te a compreensão das coisas que não precisam ser compreendidas e a aceitação daquilo que ainda não foi, mas virá a ser, quando sua música tocar. És o maestro máximo de seu fado, a rascunhar as partituras únicas de sua sorte em composições tão singulares, que, passar-se-ão anos, ainda estaremos a ouvir tamanha grandiosidade, imersos no infinito harmônico de uma existência tão única, que jamais encontrará semelhantes.

Se os poetas de outrora estiverem certos, a salvação é uma canção. Sendo assim, neste ano, neste dia, neste exato momento, desejo-lhe que faça jus a uma vivência sem igual, cujo par, serei eternamente grato pelo dueto existencial que compõe o meu viver. Ouça a sua canção. Abrace a sinfonia do seu silêncio, permita-se sentir e dar sentido a única voz inaudível que precisas ouvir, a sua, faça-a ser ouvida como o rugir de um trovão, e, só então, perceberá, assim como eu, o acorde que faltava na sua canção, será então, completa, silêncio, harmonia. Serás, perpétua, para todo o sempre, melodia.

 

“Você não ama uma pessoa pela sua aparência, por suas roupas ou por seu carro chique, mas porque ela canta uma canção que só você é capaz de ouvir.”

Oscar Wilde

 

Diego Coelho


 

*


Comentários