Hey, sonhadores!
Ontem
(29), foi meu aniversário e, para não perder o costume, compartilho o texto
poético do meu best, Diego Coelho. Boa leitura!
Verborragia
— A Tempestade
Ao
longo da nossa história nos habituamos a temer a natureza.
Nos
acostumamos a olhar para os céus e ter medo do que ele atira em nós. A tocar o
solo e aguardar com uma ansiedade compulsória que ele vibre e trema diante de
nossos pés, a mirar o horizonte, rezando para que ele não se contorça em água a
nos projete dessa existência. Porém, esses eventos têm em comum duas coisas: a
raridade e a inevitabilidade com que acontecem, como se fossem pontos
convergentes, estabelecidos como pétreos nos nós do destino. Perpétuos.
Imutáveis. Permanentes.
Acontecem.
Tal qual eles são.
Únicos
e singulares, cada um deles é um evento ímpar, que molda a natureza e a vida de
todos ao seu redor. Impõe sua força de maneira imperativa e dobra o tecido da
própria realidade a sua vontade, no entanto, ainda assim, mesmo em meio ao caos
de sua passagem e formação, existe uma ordem para sua existência. Não importa o
que aconteça, um tornado ou um furacão é concreto, tem uma forma definida,
depreensível, um funil girando ao redor do próprio eixo. Um terremoto? A
colisão de duas massas que se sobrepõem, ou que pela força da física, se
repelem ao se chocar, elevando o solo e causando uma série de tremores. Mas e quanto
a uma tempestade? Já essa, é única, sim, mas por sua natureza, não por sua
forma, uma vez que sua própria essência é o caos, sua forma também o é. Uma
força incontrolável que congrega parte de tudo aquilo que nós temos medo, um
conclave de forças, onde água, eletricidade e vento se reúnem em uma identidade
disforme, capaz de personificar aquilo que a evolução nos ensinou a temer a
respeitar.
Mas,
na real, o que nós aprendemos a recear não é o que vemos, mas o que
desconhecemos. Não sabemos de onde vem essa força, não sabemos para onde ela
vai, tão pouco sabemos como detê-la, é certo que a ciência tem suas
explicações, seus meios de detecção e prevenção, mas, no fundo, nós sabemos a
verdade. Nada disso importa, quando estamos sós, de pé, diante de uma
tempestade.
É
diante do desconhecido que nos encontramos quando olhamos no olho da
tempestade, é ele quem nos olha de volta, revelando a imensidão de tudo o que
somos, de tudo que seremos, daquilo que desconhecemos, em nós e nos outros. É
nesse momento que percebemos que somos um mero sopro na existência, um grão de
areia no oceano, um momento de ordem em meio ao caos e de caos em meio a
harmonia dissonante da criação. Uma nuvem solitária a navegar pela vastidão das
estrelas, carregando dentro de nós uma centelha da própria existência.
De
todas essas forças da natureza, somente uma é capaz de inspirar, em igual
medida, ao terror que impõe, a nossos corações. A tempestade instigou
Shakespeare, encantou Renato Russo e colidiu com Arcadia Bay. Desde o princípio
dos tempos, nos voltamos para os céus e contemplamos a Tormenta, a observamos,
buscando desvendar os seus mistérios, procurando entender e decifrar o que
contam as vozes de seus trovões, quais segredos e histórias há, quando um
relâmpago cruza os céus, mais além, quem nos olha de volta quando ele apaga, e só
resta a sinfonia silenciosa de sua fúria latente. É nesse silêncio que precede
a cacofonia que nos encontramos, é nesse limbo entre o existir e não existir
que a tempestade nos encontra, nos fazendo perceber que ruge dentro de cada um
de nós uma tempestade única. Silente. Revolta. Transmuta. Carregando dentro de
si, a fagulha de todo o cosmos.
Diante
desse fato incontestável, nos resta abraçar o fado, nosso estigma, e aceitar
que nossa natureza é o caos. É o fremir de uma Tormenta incontrolável, que como
sua homônima, colide, transgride, incomoda, transforma, desconstrói, abstrai.
É. Em todo o sentido e extensão que só um existir pode conter. Um
finito-infinito, um instante-eterno, uma alvorada poente, onde tudo o que
existe cabe, e por caber, transborda por não conter espaço que suporte aquilo
que ainda não é, mas já foi e ainda será. Uma constante variável que emula o romper
dos céus, a clarear por um instante tão rápido quanto a luz tudo que alcança, conjurando
o temor nos corações daqueles que testemunham sua fúria, e então, como se nunca
tivesse existido, silêncio, aquele que prenuncia a tempestade, aquele onde nós
sabemos residir todas as vozes, entoando uma sinfonia única, harmonicamente
disforme, capaz de nos trazer de volta do olho do furacão, de nos trazer de
volta de nós mesmos.
Estamos
de pé, dentro da nossa tempestade. É o desconhecido que nos olha de volta. Mas
não um ignoto qualquer, é o que não sabemos sobre quem nós somos que reside
dentro do coração do temporal. Aprendemos a temer a tempestade por seus
estragos, e a temer a nós mesmos, por não saber quem somos. Silenciamos as
vozes de nossas Tormentas por recear que elas tenham razão, elas têm. Somos
mais. Infinitamente mais. Cosmicamente mais. Mesmo quando nos esquecemos de
ser.
Existe
uma tempestade dentro de cada ser. A nossa tempestade. Como aquelas que rugem
nos céus, conjuram medo e fascínio naqueles que possuem a audácia de
encará-las. Como suas gêmeas, encontram seu caminho mundo afora, mais cedo ou
mais tarde, devastando tudo aquilo que se interpõe diante de si, afinal, nem
mesmo nós sabemos do que somos capazes até sermos testados e por isso, nossa
tempestade aguarda, silente dentro do âmago de nossa existência.
Somos
tempestades. Uma força da natureza feita para moldar o mundo à nossa volta,
feitos para se expandir, reinventar, varrer e aterrorizar a tudo aquilo que não
sabe de onde viemos, tão pouco para onde vamos. Vagamos pelo mundo em uma
trajetória disforme, errática, imprevisível. Somos a soma de todas as nossas
forças e nossas vulnerabilidades, atiradas contra aquilo que nos fez a sua
vontade, ao mesmo tempo em que somos a beleza daquilo que não consegue nos ter,
nos controlar, nos conter. Somos.
Você
é tempestade. É uma força mutável e inconstante que atrai a atenção de todos ao
seu redor, congregados em uma amálgama de temor e fascínio. Sua passagem
desperta, instiga, inspira, marca a tudo e a todos com os quais cruza, fazendo
com que se voltem a ti, ansiosos para compreender um pouco mais sobre o
fenômeno que és, enquanto tentam mensurar o tamanho da força que reside em um
ser tão único, capaz de despertar o medo e o êxtase em igual medida. Um sopro,
uma centelha, uma fagulha, ainda que finita, do infinito, parte do cosmos e um
universo inteiro, dentro de um único ser. Parte calmaria, mas muita Tormenta.
O
que dizem as vozes dos seus ventos? Que males as águas de suas chuvas vieram
lavar? Para onde irão suas nuvens nessa nova rotação? Quem você é, de pé,
dentro do olho do seu furacão? Tudo isso e muito mais reside em você. É parte
de você. Faz com que os outros te admirem. Você tem seus dias de chuva breve e
de Tormenta violenta, e são essas flutuações que te tornam singular, única,
como sua homônima. Não tema os seus silêncios, aprenda a decifrar sua sinfonia,
a regê-la, a dominá-la, dessa forma, quando sua tempestade rugir, saberá
orquestrar seus estragos, a compreender a extensão de sua força e que, não
existem dimensões para aquilo que é infinito.
Busque
não se enquadrar em nenhuma medida, em nenhum rótulo, em nenhum dogma. É muita
Tormenta para pouca bonança. Por isso, Abrace a sua tempestade. Que ela te
ensine, te ilumine, te converta. Que você emerja dela mais forte, mais
abstrata. Afinal, este novo ciclo vem para provar mais cedo ou mais tarde a
temporada das chuvas sempre vem, e que as tempestades de primavera, são sempre
prenúncio de coisas gloriosas.
Nessa
sua nova primavera, busque-se, encontre-se, admire-se e retorne do olho do seu furacão,
ainda mais você, e isso, já é mais do que o suficiente, pois você, por você, já
é a maestria do que a natureza se dispôs a fazer.
Feliz
Aniversário, Fabiane.
“Tempestades
não se forjam: nascem espontâneas do céu, do ar, das vagas, da luta entre as realidades
supremas da natureza, entre os elementos agitados, quando se eletriza a atmosfera,
quando o oceano não cabe nas praias, quando os horizontes se carregam de negrumes
e os ventos varrem desatinados o globo. Não as desencadeia o sopro de um homem,
por mais que se ele suponha os pulmões e as bochechas de Éolo.”
—
Rui Barbosa
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