Homenagem: dia do escritor




Olá, sonhadores!

No dia 25 (quinta), foi comemorado o Dia Nacional do Escritor. Por isso, o post de hoje é uma singela homenagem a todos os escritores incríveis e maravilhosos que nos encantam com suas obras e sua escrita. A minha homenagem consiste em compartilhar quatro poemas de Manuel Bandeira sobre seus amigos (também escritores) e Luís Vaz de Camões.

 
 
 
A Camões

Quando n’alma pesar de tua raça

A névoa da apagada e vil tristeza,

Busque ela sempre a glória que não passa,

Em teu poema de heroísmo e de beleza.

 

Gênio purificado na desgraça,

Tu resumiste em ti toda a grandeza:

Poeta e soldado… Em ti brilhou sem jaça

O amor da grande pátria portuguesa.

 

E enquanto o fero canto ecoar na mente

Da estirpe que em perigos sublimados

Plantou a cruz em cada continente.

 

Não morrerá sem poetas nem soldados

A língua em que cantaste rudemente

As armas e os barões assinalados.

 
 
 

Carlos Drummond de Andrade

Louvo o Padre, louvo o Filho,

O Espírito Santo louvo.

Isso feito, louvo aquele

Que ora chega aos sessent’anos

E no meio de seus pares

Prima pela qualidade:

O poeta lúcido e límpido

Que é Carlos Drummond de Andrade.

 

Prima em Alguma Poesia,

Prima no Brejo das Almas.

Prima na Rosa do Povo,

No Sentimento do Mundo.

(Lírico ou participante,

Sempre é poeta de verdade

Esse homem lépido e limpo

Que é Carlos Drummond de Andrade.)

 

Como é fazendeiro do ar,

O obscuro enigma dos astros

Intui, capta em claro enigma.

Claro, alto e raro. De resto

Ponteia em viola de bolso

Inteiramente à vontade

O poeta diverso e múltiplo

Que é Carlos Drummond de Andrade.

 

Louvo o Padre, o Filho, o Espírito

Santo, e após outra Trindade

Louvo: o homem, o poeta, o amigo

Que é Carlos Drummond de Andrade.

 
 
 

A Guimarães Rosa

Não permita Deus que eu morra

Sem que ainda vote em você;

Sem que, Rosa amigo, toda

Quinta-feira que Deus dê,

Tome chá na Academia

Ao lado de vosmecê,

Rosa dos seus e dos outros,

Rosa da gente e do mundo,

Rosa de intensa poesia

De fino olor sem segundo;

Rosa do Rio e da Rua,

Rosa do sertão profundo!

 
 
 

A Mário de Andrade ausente

Anunciaram que você morreu.

Meus olhos, meus ouvidos testemunham:

A alma profunda, não.

Por isso não sinto agora a sua falta.

 

Sei bem que ela virá

(Pela força persuasiva do tempo)

Virá súbito um dia,

Inadvertida para os demais.

Por exemplo assim:

À mesa conversarão de uma coisa e outra,

Uma palavra lançada à toa

Baterá na franja dos lutos de sangue,

Alguém perguntará em que estou pensando,

Sorrirei sem dizer que em você

Profundamente.


Mas agora não sinto a sua falta.

 

(É sempre assim quando o ausente

Partiu sem se despedir:

Você não se despediu.)

 

Você não morreu: ausentou-se.

Direi: Faz tempo que ele não escreve.

Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.

Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.

Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?

A vida é uma só. A sua continua

Na vida que você viveu.

Por isso não sinto agora a sua falta.

 
 
 

Espero que tenham gostado dessa seleção. Essas poesias, para mim, demonstram o amor e a admiração de Manuel Bandeira a cada um deles. É perceptível o quão caros e importantes são para o poeta — assim como são para a língua portuguesa. Um abraço e até o próximo post. o/




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