Hey,
sonhadores! ❤
Sábado (12) é o Dia dos Namorados e, por isso, venho compartilhar 10 poemas sobre o amor
para aquecer e acalentar o nosso coração.
Amor é um fogo que
arde sem se ver – Luís de Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer;
é um não querer mais que bem querer;
é solitário andar por entre a gente;
é um não contentar-se de contente;
é cuidar que se ganha em se perder;
é um estar-se preso por vontade;
é servir a quem vence o vencedor;
é um ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode o seu favor
nos mortais corações conformidade,
sendo a si tão contrário o mesmo amor?
Nós – Silva Ramos
Eu e tu: a existência repartida
por duas almas; duas almas numa
só existência. Tu e eu: a vida
de duas vidas que uma só resuma.
Vida de dois, em cada um vivida,
vida de um só vivida em dois; em suma:
a essência unida à essência, sem que alguma
perca o ser una, sendo à outra unida.
Duplo egoísmo altruísta, a cujo enleio
no próprio coração cada qual sente
a chama que em si nutre o incêndio alheio.
Ó mistério do amor onipotente,
que eternamente eu viva no teu seio,
e vivas no meu seio eternamente.
Soneto LXVI – Pablo Neruda
Não te quero senão porque te quero
e de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
te odeio sem fim, e odiando-te te rogo,
e a medida de meu amor viageiro
é não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego.
Nesta história só eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo.
Soneto do amor total – Vinicius de Moraes
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em ter corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Soneto XVIII – William Shakespeare
Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.
Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.
Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:
Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.
As sem-razões do amor – Carlos Drummond de Andrade
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Ternura – Vinicius de Moraes
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
extático da aurora.
Amor – Álvares de Azevedo
Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minh’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
Bilhete – Mario Quintana
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
Amor como em casa – Manuel António Pina
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Quem ama (ou já amou), sabe que o amor é tudo que
foi escrito nos poemas acima e além. Pode ser difícil colocar em palavras esse
sentimento, mas os poetas se arriscaram e conseguiram descrevê-lo. Em síntese,
o amor:
·
é a dualidade
descrita por Camões;
·
é a vida una a
dois que Silva Ramos nos explicita;
·
é a intensidade
presente em Neruda;
·
é o ardor
demonstrado por Vinicius de Moraes;
·
é a eternidade
e a beleza delineadas por Shakespeare;
·
é não ter uma
definição como Drummond de Andrade nos mostra;
·
é o amor calmo
e tranquilo (sem turbulências) representado por Vinicius de Moraes;
·
é o amor
ardente que precisa ser declarado como em Álvares de Azevedo;
·
é a intimidade
de um casal apaixonado simbolizada por Mario Quintana;
·
é o aconchego e
o conforto de quando estamos em casa caracterizados por Manuel António Pina.
Gostaram da minha seleção de poemas para o dia dos namorados? Qual o seu
favorito? Um abraço e até o próximo post. o/
❊
Camões mito, a maioria dos outros eu não conhecia. Parabéns, excelente seleção! XD
ResponderExcluirCamões não poderia ficar de fora rsrs. Muito obrigada! XD
ExcluirAdorei a seleção! Bilhete do Mário Quintana é tudo. ❤️
ResponderExcluirMuito obrigada! Também acho rs.
ExcluirAmei! Poemas me dão uma nostalgia da época de pré adolescente, quando eu gostava de copiar-los em um caderninho. 🥰
ResponderExcluirSomos duas, Ruth! Também copiava poemas no meu caderno. ♡
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