Hey, sonhadores! ❤
Para mim, o ano de 2018 foi repleto de insegurança e (Por que não?) de medo. A minha vida oscilou como nunca (meus tweets que digam rs), era um 7x1 quase todo dia. Ainda não é fácil sair da redoma de vidro, mas não é sobre isso que quero falar neste post.
Ao ler As aventuras de Pi, de Yann Martel, o capítulo 56 me chamou a atenção, pois fala justamente do medo. O medo nos drena de tal forma que achamos que não existe saída e que somos incapazes de fazer qualquer coisa. Digo uma coisa: somos maiores que nosso(s) medo(s) — acreditem em mim. E esse capítulo mostra exatamente como ele(s) surge(m) e que não devemos deixá-lo(s) nos dominar.
Por isso, resolvi compartilhar com vocês um capítulo tão importante não só para o livro mas também para nós que estamos enfrentando nosso(s) monstro(s) interior(es). Resolvi, porque quero que vocês, assim como eu, saibam lidar com ele(s) da melhor forma possível. Segue abaixo o capítulo:
Preciso dizer uma coisa sobre o medo. Ele é o único adversário efetivo da vida. Só o medo pode derrotá-la. É um adversário traiçoeiro, esperto... Como eu sei disso! Não tem nenhuma decência, não respeita leis nem convenções, não tem dó nem piedade. Procura o nosso ponto mais fraco e o encontra com a maior facilidade. Começa pela mente, sempre. Num momento, estamos nos sentindo calmos, confiantes, contentes. Aí o medo, disfarçado sob a capa de uma ligeira dúvida, se infiltra na nossa mente como um espião. A dúvida vai ao encontro do descrédito e o descrédito tenta expulsá-la dali. Mas ele não passa de um soldado de infantaria com armamento deplorável. Sem maiores problemas, a dúvida consegue vencê-lo. Começamos a ficar ansiosos. A razão entra em cena para lutar por nós. Ficamos mais tranquilos. Afinal, ela está inteiramente equipada com armamentos da mais avançada tecnologia. Mas, para nossa surpresa, apesar da superioridade das suas táticas e de uma quantidade inegável de vitórias, a razão é derrotada. Nós nos sentimos enfraquecidos, hesitantes. A nossa ansiedade se transforma em pavor.
O medo, então, se concentra inteiramente no nosso corpo, que já está sabendo que algo terrível vai acontecer. Os nossos pulmões já bateram asas como um pássaro e as nossas entranhas foram embora se esgueirando como uma cobra. Agora, a nossa língua cai morta como um gambá, enquanto as nossas mandíbulas começam a galopar sem sair do lugar. Os nossos ouvidos ficam surdos. Os nossos músculos começam a estremecer como num ataque de malária e os nossos joelhos chocalham como se estivessem dançando. O nosso coração fica apertadíssimo ao passo que o nosso esfíncter relaxa demais. E assim por diante, com todo o resto do nosso corpo. Cada parte de nós, a seu modo, entra em colapso. Só os nossos olhos continuam funcionando bem. Eles sempre dão a devida atenção ao medo.
Bem depressa, tomamos decisões precipitadas. Abandonamos os nossos últimos aliados: a esperança e a confiança. E pronto! Nós mesmos nos derrotamos. O medo, que não passa de uma impressão, acabou de nos vencer.
É uma questão difícil de expressar com palavras. Pois o medo, o medo de verdade, aquele que abala até mesmo os nossos alicerces, aquele que sentimos quando nos vemos cara a cara com o nosso fim mortal, se instala na nossa memória como uma gangrena: trata de estragar tudo, até mesmo as palavras que usamos para falar dele. Portanto, é preciso um esforço enorme para expressá-lo. Temos de lutar bravamente para lançar a luz das palavras sobre ele. Porque, se não fizermos isso, se o nosso medo se tornar uma escuridão indescritível que evitamos a todo custo, algo que talvez até possamos esquecer, estaremos abrindo a guarda para sofrer novos ataques, já que nunca enfrentamos para valer o adversário que nos derrotou.
(MARTEL, Yann. As aventuras de Pi. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. p. 194-195.)
Espero que tenham gostado do capítulo e que se sintam motivados a não deixar o(s) medo(s) dominar(em) o seu eu. Um abraço bem apertado com o desejo de que 2019 será um ano muito melhor em todos os aspectos. Até o próximo post! o/
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