Dica de leitura: antologia Vilãs

 


Hey, sonhadores!

O post de hoje é sobre o livro Vilãs, organizado por Clara Madrigano, publicado pela Corvus. Essa antologia contém 10 contos sobre mulheres poderosas e o lado obscuro das histórias. Dito isso, vamos aos contos.



  • Abandonada, de Karen Alvares

Paula é uma mulher que nunca teve uma boa relação com a família, principalmente com os irmãos mais velhos. Um dia, ela recebe a visita de uma mulher com uma criança, informando que a menina ficou órfã (a mãe morreu, e o pai a abandonou), e Paula é a única pessoa da família que pode cuidar da sobrinha.

Sim, é uma releitura de Pollyanna (Eleanor H. Porter). Neste conto, Poliana é uma menina muito sorridente — até demais, como afirma a tia. A relação das duas é conflituosa, porque Paula não sabe lidar com crianças e tão pouco quer ter a responsabilidade de cuidar de uma, já que o pai da garota está vivo.



  • A mais bela, de The Wolf

Releitura de Branca de Neve. A história é ambientada no universo cinematográfico. No início, percebe-se quem são os personagens: Branca de Neve, os sete homens e, óbvio, a bruxa. Porém, ao longo da leitura, fica claro que os papéis são subvertidos.

Hilde Bergman é uma mulher que a indústria cinematográfica descartou por conta da idade. Percebemos que a importância de uma mulher está na sua beleza e juventude — eu diria mais: a beleza está atrelada à juventude (Apenas nas telas?). O narrador afirma que Hilde, “quando compara a Eve [a enteada], não passava de uma velha atriz obsoleta que já vira seu próprio tempo passar”. Ela deseja, sim, ser a mais bela, mas o conto mostra a sua dualidade de desejar o mal (a morte) à enteada e de compreender que a beleza é efêmera, principalmente, no cinema.



  • A face da inocência, de Deia Klein

É uma história com um início genérico de contos de fadas, e nossa protagonista narra seu casamento e sua vida no castelo. Uma jovem é prometida em casamento a um nobre — de título e de caráter.

Após o casamento com Theodoro, ela fica debilitada por uma doença (não se sabe qual). Ao longo da leitura, percebemos que há algo estranho nessa doença. Certamente, a protagonista encontrará força para descobrir o porquê de sua enfermidade, mas a forma como resolve o problema é fenomenal.



  • Bendita seja a criação, maldita é a criatura, de Geovanna Ferreira

Releitura da criação do mundo, segundo a Bíblia. Aqui uma anjo não concorda com a criatura amada de Deus: os humanos. Ela estava lá quando Adão e Eva morderam a maçã e foram expulsos do Éden. Por isso, os via como “seres que matavam, que dilaceravam, que riam, que atiravam com seus canhões, que mutilavam e gostavam do gosto salgado das lágrimas de seus semelhantes”.

Suruya é uma anjo da guarda que, por amar seu Criador, odeia as criaturas que Ele criou, pois são maus e cruéis com seus semelhantes. “Os homens não mereciam, mas Deus ainda os amava.” Para ela, os humanos não são dignos de (sua) proteção e, por conseguinte, merecem toda dor e todo infortúnio que vier. 



  • Mal de ojo, de Soraya Coelho

Já se perguntaram sobre a origem da bruxa de João e Maria? Quando criança, ela perdeu sua irmã por conta da manipulação de um homem, pois, injustamente, foi acusada de cometer bruxaria. Assustada e com ódio da atitude nefasta das pessoas do povoado, a garotinha correu para dentro da floresta.

Lá conhece uma senhora que a alimenta e diz que ela precisa vingar a morte da irmã; os que foram complacentes com a injustiça devem pagar pelo mal que fizeram e pelo bem que recusaram fazer. Ao executar seu plano, lembra o que a velha sussurrou em seu ouvido: “Eu só quero que tu não se esqueça, coisinha, que é assim que nascem as bruxas”. Este conto é a literariedade do ditado “olho por olho, dente por dente”.



  • Marcada, de Nara Odelle

Amélia era uma menina quando chegou ao circo com sua mãe. O que ela não sabia era que o circo se tornaria seu lar e que a partida da mãe seria a primeira de muitas. Depois de uns anos morando com a trupe, descobre que tem um talento incomum. Por conta desse talento, recebe sua primeira tatuagem. Sempre é tatuada por algum motivo: quando faz algo errado (para lembrá-la de seus atos) e quando executa bem as suas atividades artísticas no circo.

Amélia tem o sonho de ser professora, de cursar Artes (para estar próxima da essência do circo); tem o desejo de um futuro longe do circo: cursar faculdade e ter sua própria residência. Porém sua vida no circo não é um mar de rosas, ela não é bem-quista e tão pouco seus planos acontecem como planeja. Apesar dos pesares, descobre sua potência e o que fazer para seguir seu caminho.



  • Os sóis de Maria, de Laísa Couto

Maria do Céu recebe uma profecia da mãe:

— Minha filha, tu vai parir cem vezes.

— Por que, mãe? A senhora tá falando cada coisa estranha.

— Porque foi por isso que te deixei viver. Tu deve alimentar o mundo,  esse que carreguei no ventre e ganhou a terra. Agora, o peso é todo teu, Maria do Céu. E aqueles que não puderem mais vir de ti, tu vai pegar daquelas que ainda aninham os filhos pequenos no peito.

É importante ressaltar que o sol de Maria é passado de geração em geração. Quando esse sol desperta, ela descobre calores que não sentia. Além disso, entende como saciar sua fome. Uma vez saciada, percebe como alimentar a terra onde mora. Com Maria, compreendemos o significado das palavras de sua mãe.



  • A assassina do príncipe, de Thaís Rocha

Começamos a leitura com um jovem preso que será condenado à forca por um delito. Na cela, enquanto aguarda o seu destino final, escuta uma risada na cela vizinha. A contragosto, dialoga com a colega.

Fendrel pergunta o motivo dela estar ali e, nos poucos diálogos, percebe qual crime cometeu. Meio receoso escuta o que a jovem tem a dizer sobre como parou ali. A protagonista relata sua história desde o início a Fendrel. Ao lermos seus infortúnios, entendemos o porquê e a maneira como o assassinato do príncipe ocorreu.



  • Ao ouvir os sussurros da morte, ela respondeu, de Ana Cristina Rodrigues

O Império Humano está em guerra há milênios com todas as civilizações e sociedades existentes do mundo. Esse conto é sobre a origem da líder do Império Humano. Em síntese, uma menina descobre que tem o poder de conversar com espíritos e de dar ordem a eles. Além disso, descobre que pode comandar os mortos. Aos dez anos, as pessoas da sua aldeia descobrem o seu poder. O curandeiro entra em contato com pessoas para a buscarem e a levarem à cidade dos templos. Lá percebe a desigualdade: na cidade, luxo, melhores alimentos, melhores roupas; já na aldeia, pobreza, frutos murchos da colheita, trapos como vestimenta. Tentou falar isso, mas riram dela.  Por essa razão, determinou que era hora de mudar.

“Foi naquele momento que decidi que não ia resolver os problemas do mundo. Iria criá-los. Mais e mais e mais. Eu seria um problema. O maior de todos.”

O seu poder foi treinado e testado todos os dias durante seis anos pelas mulheres do templo até o dia que ela deu um basta. Por conseguinte, percebeu que a cidade não era suficiente para saciar a sua “sede” e disse aos espíritos que construiria um império em cima dos poderes que recebeu.



  • A natureza das minhas intenções, de Fabiana Ferraz

Releitura de Branca de Neve. Aqui temos a versão da Rainha. Ela casa com o rei por um acordo feito pelo pai dela. Em sua ingenuidade, acredita que estudar e ter conhecimento a fará uma rainha digna do rei, e que os dois governariam o reino com justiça. Ledo engano. Ela foi calada pelo rei quando contra-argumentou as propostas do reino vizinho. Com isso, ela afirma:

“Finalmente aprendi a lição e descobri qual era o meu lugar como mulher. Diante de todos, passei a me comportar como a rainha que todos desejavam, passiva, calada e sempre sorridente. Uma mulher quieta é invisível, e, como tal, pode se infiltrar em diversas camadas sem ser notada.”

O problema dela com Branca de Neve era a jovem ser ingênua demais e submissa. Fora que sua única ambição era casar. A rainha tentou ensiná-la a ter outras aspirações além do casamento e aprender questões políticas do reino, porém nada adiantou. Branca continuava no próprio mundinho colorido.

O que a deixou furiosa a ponto de fazer o que fez não foi o fato de Branca ser a mais bonita, mas o rapaz que saía com a rainha cortejou Branca de Neve. Em suas palavras, "para a virginal Branca, o compromisso assumido; para a madrasta, o fetiche escondido". Asseguro uma coisa: o desfecho da história é distinta da que conhecemos.



Meu trecho favorito:

“O espelho e eu nos entendemos muito bem, a única entidade que conseguiu desvendar minha alma e meus tormentos. Eu o encarei, e meu reflexo me encarou de volta. No final, acabei me apaixonando pela minha imagem, minha pessoa e por tudo o que eu era e poderia ser um dia.” (A natureza das minhas intenções, de Fabiana Ferraz)


Vilãs são sobre mulheres que não se deixaram levar pelo que os outros queriam que elas fossem e/ou esperavam que elas fizessem. Cada conto dá jus ao título dessa antologia, pois não mostra apenas o lado obscuro mas também que elas tiraram forças da obscuridade para serem donas do próprio destino.

Amei a antologia? Sim! Recomendo a leitura? Mil vezes sim! Por isso, torço para que este post tenha despertado o seu interesse em ler esse livro. Além disso, existe uma playlist para nos ambientar ao tema da leitura. Um abraço e até o próximo post! o/



Comentários

  1. As vilas sempre tem uma carga emocional que a mocinha tradicional não tem, por isso acho mais fácil se importar e torcer por elas. Parabéns pelo texto!

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