Hey, sonhadores! ❤
O livro A redoma de vidro, de Sylvia Plath, é narrado em primeira pessoa: Ester Greenwood é a nossa protagonista-narradora. Percebemos, logo no primeiro capítulo, que ela não está bem — já que não está animada como as outras garotas que ganharam o concurso e estão em Nova Iorque fazendo estágio por um mês com tudo pago — e como a situação dela vai piorando.
Esse romance aborda a depressão como ela é (sem eufemismo e romantismo) e, por conta disso, é honesto com o leitor. Digo isso porque, ao longo da leitura, percebemos como a redoma de vidro é angustiante e claustrofóbica. Não recomendo a leitura caso você não esteja bem de espírito. Como explica Paulo Ratz, do canal Livraria em Casa, esse livro é autobiográfico.
Seguem abaixo alguns trechos que me identifiquei de certa forma:
“Acontece que eu não estava conduzindo
nada, nem a mim mesma. Eu só pulava do meu hotel para o trabalho e para as
festas, e das festas para o hotel e então de volta ao trabalho, como um bonde
entorpecido. Imagino que eu deveria estar entusiasmada como a maioria das
outras garotas, mas eu não conseguia me comover com nada. (Me sentia muito
calma e muito vazia, do jeito que o olho de um tornado deve se sentir,
movendo-se pacatamente em meio ao turbilhão que o rodeia.)” (p. 9)
“O silêncio me deprimia. Não era o
silêncio do silêncio. Era o meu próprio silêncio.” (p. 26)
“A cidade estava dependurada na minha
janela, achatada como um pôster, brilhando e piscando, mas poderia
perfeitamente não estar lá, já que não me afetava em nada.” (p. 26)
“Você nunca se decepciona quando não
espera nada de alguém.” (p.
68)
“Me sentia inerte, vazia, repleta de
sonhos despedaçados.” (p.
70)
“Não que isso fosse me fazer mais feliz,
mas ao menos seria uma pedrinha de eficiência em meio a todas as outras.” (p. 86)
“O problema é que eu odiava a ideia de ter
que trabalhar para homens. Eu queria ditar minhas próprias cartas
arrebatadoras.” (p. 87)
“Eu via minha vida se ramificando à minha
frente como a figueira verde daquele conto. (...) Me vi sentada embaixo da
árvore, morrendo de fome, simplesmente porque não conseguia decidir com qual
figo eu ficaria. Eu queria todos eles, mas escolher um significava perder todo
o resto, e enquanto eu ficava ali sentada, incapaz de tomar uma decisão, os
figos começaram a encolher e ficar pretos e, um por um, desabaram no chão aos
meus pés.” (p. 88-89)
“Era
sempre a mesma coisa: eu vislumbrava um homem sem defeitos à distância, mas
assim que ele se aproximava eu percebia que não era bem assim.
Essa é uma das razões por que nunca quis
me casar. A última coisa que eu queria da vida era “segurança infinita” ou ser
o “lugar de onde a flecha parte”. Eu queria mudança e agitação, queria ser uma
flecha avançando em todas as direções, como as luzes coloridas de um rojão de
Quatro de Julho.” (p. 95)
“E eu soube que, apesar das rosas e dos
beijos e dos jantares que o homem despejava sobre a mulher antes do casamento,
o que ele secretamente desejava depois da cerimônia nupcial é que ela se
estendesse sob seus pés como o tapetinho de cozinha da sra. Willard.” (p. 96-97)
“Um sol branco e frio brilhava no alto do
céu. Eu queria que ele me afiasse até eu ficar fina, sagrada e essencial como a
lâmina de uma faca.” (p.
111)
“Os rostos eram vazios como pratos e ninguém
parecia estar respirando.”
(p. 120)
“Eu
não via motivo para me levantar.
Eu não ansiava por nada.” (p. 133)
“Pensei que o começo com letra minúscula
significava que nada jamais começava para valer, mas apenas fluía do que
acontecera antes.” (p. 139)
“Ergui o livro e lentamente folheei as
páginas diante dos meus olhos. As palavras, embora ligeiramente familiares,
estavam todas retorcidas, como rostos numa sala de espelhos, e passaram sem
deixar impressão alguma na superfície vítrea do meu cérebro.” (p. 140)
“Eu
achava estúpido lavar algo num dia para no dia seguinte ter que lavar de novo.
Ficava
cansada só de pensar naquilo.
Queria fazer as coisas de uma vez e me ver
livre de tudo.” (p. 144)
“Tinha
imaginado um homem afável, feio e intuitivo, que olharia para mim e diria “ah!”
de maneira encorajadora, como se pudesse ver algo que eu não podia, e então eu
encontraria palavras para descrever por que estava tão assustada, como se
estivesse sendo enfiada cada vez mais fundo num saco escuro, sem ar e sem
saída.
Ele
se encostaria na cadeira e uniria as pontas dos dedos e me explicaria por que
eu não conseguia dormir, ler ou comer, e por que tudo que as pessoas faziam me
parecia estúpido, uma vez que todo mundo morre no final.
E então pensei que ele me ajudaria, passo
a passo, a voltar a ser eu mesma.” (p. 145)
“O problema de um pulo como aquele era
que, se você não saltasse da altura certa, podia estar vivo quando atingisse o
chão. Imaginei que sete andares era uma distância segura.” (p. 153)
“Era como se o que eu quisesse matar não
estivesse naquela pele ou no leve pulsar azul sob o meu dedão, mas em outro
lugar mais profundo e secreto, bem mais difícil de alcançar.” (p. 165)
“Quanto pior você ficava, mais longe eles
te escondiam.” (p. 179)
“Eu sabia que devia ser grata à sra.
Guinea, mas não conseguia sentir nada. Não teria feito a menor diferença se ela
tivesse me dado uma passagem para a Europa ou um cruzeiro ao redor do mundo,
porque onde quer que eu estivesse — fosse o convés de um navio, um café
parisiense ou Bangcoc —, estaria sempre sob a mesma redoma de vidro, sendo
lentamente cozida em meu próprio ar viciado.” (p. 208)
“Se eu ia cair, que fosse abraçada aos
meus pequenos prazeres, pelo máximo de tempo possível.” (p. 234)
“Seus pensamentos não eram meus
pensamentos, seus sentimentos não eram meus sentimentos, mas éramos próximas o
suficiente para que seus pensamentos e sentimentos parecessem uma versão
distorcida e soturna dos meus.” (p. 245)
“—
Vamos continuar de onde paramos, Esther — ela havia dito, com seu sorriso doce
de mártir. — Vamos fingir que tudo não passou de um sonho ruim.
Um
sonho ruim.
Para
a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo
inteiro é um sonho ruim.
Um
sonho ruim.
Eu
lembrava de tudo. (...)
Talvez
o esquecimento, como uma nevasca suave, pudesse entorpecer e esconder aquilo
tudo.
Mas aquilo tudo era parte de mim. Era a
minha paisagem.” (p. 266)
“Mas eu não tinha certeza. Eu não tinha
certeza de nada. Como eu poderia saber se um dia — na faculdade, na Europa, em
algum lugar, em qualquer lugar — a redoma de vidro não desceria novamente sobre
mim, com suas distorções sufocantes?” (p. 270)
“Respirei
fundo e ouvi a batida presunçosa do meu coração.
Eu sou, eu sou, eu sou.” (p. 273)
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Parece ser um livro denso realmente. Espero poder ler em breve. Ótima dica
ResponderExcluirDe fato é denso. Recomendo a leitura (mas leia quando estiver bem emocionalmente).
ExcluirLi graças a indicação. Realmente é muito pesado, precisei ler aos poucos e depois ler algo mais "final feliz". Mas vale super a pena! Muito bom mesmo!
ResponderExcluirFico feliz que tenha lido uma recomendação minha de livros. 🥰 Apesar de pesado, vale a leitura. Ler algo "final feliz" depois foi uma ótima ideia.
ExcluirCom muita vontade de ler mas não sei se é um bom momento.
ResponderExcluirMinha recomendação é que leia quando estiver em um bom momento.
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